Um artigo muito interessante foi lançado em 05 de maio pelo Centre for Climate Change Economics and Policy (CCCEP) e The Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment, pelos autores Rodney Boyd, Nicholas Stern e Bob Ward.
O artigo analisa as intenções de diversos atores em relação às metas para redução de emissões até 2030 e 2050 e a probabilidade de limitar o aumento da temperatura global a 2ºC até 2100. De acordo com cientistas do UNFCCC, esta meta é necessária para que não ocorram os prováveis efeitos não lineares e imprevistos com alto impacto para a humanidade.
O que destaca-se neste curto artigo é o método utilizado para analisar as informações e as conclusões que são tiradas da análise dos cenários. Os autores analisam as emissões de Gases de Efeito Estufa declaradas pela União Europeia, China e EUA, aplicam à evolução das emissões de GEE as intenções declaradas de redução destes atores que constam em documentos oficiais e, por fim, projetam as emissões para 2030 e 2050, analisando a sua possibilidade de entregar os resultados desejáveis para concretizar os limites impostos pelos cientistas do UNFCCC.
Os EUA se comprometem a reduzir as emissões de GEE entre 26% e 28% abaixo dos níveis de 2005 até 2025, a China compromete-se em atingir o pico de emissões até 2030, esforçando-se para atingir este ponto antes desta data e a União Europeia pretende reduzir suas emissões em 40% em relação a 1990.
As metas estabelecidas, concluem os autores, não são consistentes com a meta de limitar o aumento da temperatura média do planeta a 2ºC, ainda que representem um progresso em relação ao cenário de Business as Usual. Para que seja atingida a meta, há necessidade de esforço adicional não somente dos três atores, que representam 45% das emissões globais, mas dos demais componentes do sistema, tais como África, Brasil, Índia e Ásia (sem China e Índia), que deverão aumentar sua participação nas emissões até 2030.
A leitura do artigo completo demonstra que ainda há um caminho longo a se percorrer com relação às emissões totais, ao envolver-se os demais países do mundo no desafio de limitar as emissões. Considerando o que os autores chamam de gap entre as intenções de redução de emissões declaradas e as reais necessidades de redução de emissões, as metas estabelecidas nas negociações de dezembro de 2015 em Paris deveriam ser apenas um ponto de partida e que os países devem esforçar-se mais para que haja reduções de emissões mais ambiciosas.
Os autores sugerem quatro ações a partir das negociações de 2015:
1. Os países, especialmente os maiores emissores globais, deverão trabalhar intensamente para propor maiores reduções de emissões do que as já lançadas;
2. Os esforços para aumentar o investimento e inovação deverão ser intensificados, especialmente em relação às cidades, sistemas de energia e uso de terra;
3. Estabelecimento de mecanismo de revisão de metas e esforços e métodos para acelerar a redução de emissões até 2030 e além;
4. Esforços para constituir estratégias de implementação das metas de redução de seus planos, colocando os países em rota de descarbonização da economia.
Para que os esforços sejam efetivos, os países deverão envolver-se para promover a disseminação de tecnologias e apoio financeiro para a transição para uma economia de baixo carbono e constituir estruturas legais e administrativas para implementar os planos de redução.
Uma análise rápida do artigo permite inferir que os desafios para a redução das emissões serão ainda maiores do que se costuma pensar. Considerando o passivo ambiental ainda existente em diversos países, incluindo a China, os EUA e a União Europeia, e as diversas demandas globais concorrentes com as mudanças climáticas, pode-se concluir que o processo político para dar relevância ao tema ainda será longo.
No Brasil, por exemplo, precisamos ainda observar as demandas por infraestrutura em saneamento ambiental, a mobilidade urbana, a redução dos desmatamentos e recuperação das áreas degradadas, dentre outros temas relevantes, adicionando ainda a perspectiva de redução de recursos disponíveis para investimento.
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