A gestão de resíduos plásticos é um problema ambiental de larga escala, significativos impactos negativos, alta permanência, baixa reversibilidade e alta cumulatividade . Praticamente todos os países do mundo tem problemas para gerir de forma sustentável o uso de plástico, considerando a produção, uso e gestão de resíduos.
Resíduos plásticos tem sido objeto de diversos estudos, documentários, simpósios, dentre outros, porém o consumo tem aumentado ao longo do tempo, visto que o uso do plástico está diretamente ligado ao processo de crescimento das economias dos países e à praticidade do uso em embalagens para acondicionar produtos e conservar alimentos.
Do mesmo modo, os impactos ambientais do uso de plástico, em que pese a sua praticidade para o consumidor, vão desde as mudanças climáticas até a toxicidade para os humanos e a natureza, passando pela poluição para o ar e para a água e os eventuais vazamentos causados pela má gestão, como qualquer um de nós pode verificar no simples ato de ir à praia.

O documento “Pathways toward circular plastics in Europe“, publicado pela Agência Ambiental Europeia (AAE), apresenta o modelo acima e as implicações para os formuladores e implementadores de políticas públicas, empresas e cidadãos, bem como os desafios centrais ao uso de plásticos relativos ao uso mais inteligente do material, à introdução da circularidade cada vez maior do processo e da introdução dos materiais renováveis, com vistas a reduzir os impactos sobre o meio ambiente e à vida humana.
Parte das iniciativas citadas como adequadas para a gestão de plásticos tem a ver com os princípios da Ecologia Industrial, como o uso mais eficiente do material, a introdução da circularidade nos processos produtivos, a avaliação de ciclo de vida e a DfE (Design for Environment), com materiais renováveis.
O modelo para avaliação utilizado pela AAE considera as responsabilidades compartilhadas entre os agentes públicos, empresas e cidadãos, dentro do modelo de responsabilidade estendida ao produtor do plástico, um movimento que tem sido adiado por empresas produtoras de plástico em todo o mundo e uma crítica aqui a algumas empresas que colocam em suas embalagens “RECICLE”, como se o consumidor tivesse conhecimento e equipamento necessários em suas residências para promover a reciclagem de um composto químico complexo.

Na questão do uso racional do plástico, o modelo concentra nas fases de produção e uso as iniciativas a serem tomadas pelos componentes do sistema.
As empresas necessitam desenvolver modelos de negócios novos, sustentáveis e circulares, tais como serviços ao inoves de produtos, tanto em B2B, como fornecedores de outras empresas, quanto B2C, venda direta ao consumidor.
Os gestores públicos necessitam desenvolver premissas para produtos de reuso, reparáveis e duráveis e suprimir o uso de plásticos descartáveis após um único uso, reduzindo a demanda por este tipo de produto.
Os cidadãos utilizariam o uso compartilhado de produtos para reduzir a necessidade de produção de plásticos complexos, reduzindo a demanda por mais produção de plásticos em toda a cadeia produtiva.

A questão da circularidade tem sido reforçada em politicas públicas em todo o mundo. Considerar todo o ciclo de vida do produto permite avaliar os impactos em toda a cadeia produtiva, desde a extração da matéria prima, passando pelo processo de beneficiamento/industrialização (uso de energia e insumos no processo de transformação), uso (conectado com o processo do uso único ou constante citado no primeiro item) e descarte, ressaltando a necessidade de políticas de devolução para as empresas que produzem para reciclagem.
As empresas necessitam desenvolver processos em economia circular (economia é a gestão de recursos ao longo do tempo, lembremos), compras públicas considerando o ciclo de vida como parâmetro de avaliação da compra ou não e a gestão do resíduo considerado no processo produtivo.
Os gestores de políticas públicas tem a responsabilidade de introduzir fortemente a responsabilidade estendida ao produtor, onde políticas de coleta de plásticos usados devem ser implementadas para incrementar a quantidade de plástico reciclado, políticas de compras governamentais com base na avaliação do ciclo de vida dos plásticos utilizados pela administração pública e a difusão de conhecimento para a sociedade.
Os cidadãos tem sua responsabilidade na recusa de uso de plásticos com curtíssimo ciclo de vida e a maior diferenciação no plástico descartado para facilitar a destinação para reciclagem pelas empresas.
Deste modo, evita-se o “RECICLE” nas embalagens que usualmente são comercializadas atribuindo responsabilidade somente ao consumidor e expande-se a responsabilidade ao produtor, funcionando como driver para adoção de novas tecnologias, processos e produtos mais adequados aos critérios de circularidade na produção, essenciais para uma gestão ambiental do século XXI, baseada nos conceitos de ecologia industrial.

O uso de renováveis na produção, uso e descarte de plásticos é fundamental para reduzir a importância em termos de escala espacial do impacto, a magnitude do impacto, a permanência, a reversibilidade e a cumulatividade da gestão do ciclo de vida.
As empresas podem utilizar biotecnologias para produção de bioplásticos, usar recicláveis e aumentar a biodegradabilidade dos plásticos utilizados. Deste modo, a inovação ligada à produção de plásticos é fomentada, bem como a bioindústria.
Os gestores de políticas públicas focam no desenvolvimento das condições para definir políticas, instrumentos e indicadores de desempenho para avaliação do grau de sustentabilidade dos bioplásticos, gerindo ativamente as políticas públicas.
Os cidadãos tomam parte ativa na gestão de resíduos plásticos na ponta do consumo e descarte, facilitando o processo de recoleção e reuso e aumentando a eficiência do uso de recursos e reduzindo a pressão sobre o ambiente.
Integração e algumas análises possíveis
As três iniciativas citadas atribuem responsabilidades aos agentes privados, agentes públicos e cidadãos tempo por premissa a necessidade de reduzir o consumo de plásticos, aumentar o potencial de reciclabilidade dos materiais plásticos, desenvolver novas tecnologias e aumentar a responsabilidade sobre os resíduos gerados para os demais componentes da cadeia de extração, produção, distribuição, consumo, descarte e reciclagem.
Pontos importantes emergem do documento da EEA. O aumento da responsabilidade das empresas que produzem ou utilizam plásticos para comercializar seus produtos. É essencial que as empresas assumam as responsabilidades devidas por coletar e dar nova destinação aos plásticos, visto que somente as soluções em larga escala conseguem dar vazão à gestão dos grandes volumes utilizados no dia a dia.
Os responsáveis pelas políticas de resíduos sólidos podem utilizar as necessidades de uma economia circular para promover ações mais eficientes na classificação de plásticos utilizados e posterior destinação para reciclagem.
Os cidadãos precisam ter a disposição informações para promover uma separação ativa dos plásticos consumidos e reduzir o uso de materiais sem ciclo de vida avaliado. É fundamental para que os parâmetros relevantes de uma gestão de impactos ambientais tenham seus indicadores de desempenho adequadamente considerados.
Destaque-se aqui a necessidade de introduzir os parâmetros abaixo ao avaliar os impactos ambientais da extração, produção, distribuição, consumo, descarte e reciclagem de plásticos. As políticas de gestão de resíduos plásticos da AAE tem impacto direto em cada um destes parâmetros seja por redução da produção de resíduos, pela troca por outros materiais biodegradáveis, pela destinação adequada ou pela atribuição da responsabilidade de gestão aos produtores.
- Limites espaciais do impacto ambiental
- Escala do impacto positivo ou negativo da alteração ambiental
- Permanência do impacto ambiental no tempo
- Reversibilidade do impacto
- Cumulatividade
Adaptado do método RIAM – Rapid Impact Assessment Matrix.
A introdução destes parâmetros para avaliar o impacto dos plásticos auxiliaria a desenhar melhores políticas e chegar a melhores resultados quanto à gestão de plásticos.
Ressaltamos mais uma vez que os princípios da Economia Ecológica e da Ecologia Industrial continuam a ser incluídos nas políticas públicas para o ambiente e gestão ambiental na União Europeia, e usualmente tais políticas são importadas por outros países para incrementar os indicadores de desempenho das políticas públicas e promover uma adequação dos processos aos conceitos mais avançados de gestão.
Para gestores ambientais o acompanhamento das políticas públicas de outros países é fundamental para promover a evolução das políticas públicas e privadas de redução dos impactos ambientais.
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