As estratégias de instituições, sejam elas privadas, públicas ou de terceiro setor, tem por objetivo produzir mudanças desejadas que enfatizem aspectos positivos da sua atuação ou que reduzam a probabilidade de impacto por aspectos negativos.
Para que tais mudanças sejam efetivas, bem como a gestão tenha sucesso em seu objetivo, é necessário que o ambiente onde tais instituições exercem suas atividades seja conhecido e que existam estratégias para que haja uma coevolução entre a instituição e o ambiente onde ela existe e pratica suas atividades
Para a construção de estratégias o planejamento é fundamental e para realizar um planejamento adequado a instituição deve entender trabalhar com cenários que sejam os mais completos possíveis, avaliando aspectos políticos, econômicos, sociais, tecnológicos, ambientais e legais da sua atividade e resultantes da interação entre estes fatores.
A emergência das questões ambientais, sociais e de governança impõe um novo desafio às instituições. Agregar indicadores de desempenho que usualmente não eram medidos, mas que são importantes para que se tenha um panorama mais amplo dos impactos e aspectos positivos e negativos das atividades sobre o ambiente.
Recuperando o conceito de propriedades emergentes e aplicando ao ambiente de negócios e necessidade de sustentabilidade em processos produtivos relacionados a produção, distribuição, consumo e descarte, aponta-se para que os seis aspectos citados interagem entre si e geram novas propriedades de sistema, que precisam ser capturadas pelas instituições e transformadas em estratégias.
Como costumamos fazer todo início de ano, avaliamos o relatório State of Green Business , que apresenta uma seleção das 10 principais tendências do macroambiente que foram capturadas pela análise de diversos agentes de mercado e da sociedade e que tem grande probabilidade de afetar as estratégias de instituições privadas, públicas ou de terceiro setor, exigindo ações para adaptação ao novo ambiente de negócios relacionados à sustentabilidade.
Já de início o relatório destaca que a necessidade de recuperar a biodiversidade entra na ordem do dia. Com a COP 15, ocorrida em Montreal, com mais de 190 países desenvolvendo um pacote de metas e iniciativas para parar a degradação e promover a recuperação dos ecossistemas. A tendência apontada neste tópico é o desenvolvimento de métricas para avaliar políticas, práticas, gestão de riscos e oportunidades e governança das empresas sobre o tema, especialmente aquelas empresas onde o risco climático encontra o risco sobre a biodiversidade. Na nossa opinião, deve desenvolver mais rápido do que a métrica do TCFD.
Um tendência bastante promissora é a expansão dos empregos “sustentáveis”. Uma vez que as instituições são pressionadas a avaliar seus impactos sobre a sustentabilidade do seu negócio, mais profissionais são demandados para desenvolver e implementar estratégias em sustentabilidade que sejam robustas e que vão bem além da visão de marketing.

Fonte: State of Green Business 2023
10 maiores tendências em negócios sustentáveis para 2023
Micromobilidade e trânsito em direção ao Net Zero
O foco desta tendência é a mobilidade urbana. Aprofundar a retirada de carros das ruas, investir em mobilidade e logística sustentável, com distribuição de produtos de forma mais inteligente, promovendo que de 40% a 80% dos deslocamentos sejam feitos de forma sustentável nas cidades e tenham origem em caminhar, usar bicicleta ou transporte público.
Sustentabilidade sendo ensinada no trabalho
A expansão da produção de conteúdo educativo específico por empresas vem avançando, com a preocupação em trazer para o dia a dia do colaborador conceitos de sustentabilidade aplicáveis ao negócio e promover inovações, sejam elas disruptivas, sejam elas adaptativas.
Mensuração de indicadores não financeiros de desempenho entram na lista de prioridades
Um tema recorrente nas atividades das empresas e na mensuração de seus impactos ambientais e sociais é que os indicadores chave de desempenho social e ambiental crescem em relevância ao entregar resultados financeiros e econômicos. A mensuração de impactos sobre a biodiversidade é um exemplo, com o desenvolvimento de métricas para avaliar e publicizar tais impactos. É uma área que exige experiência, treinamento em metas baseadas em ciência e o corpo interdisciplinar, como forma de não concentrar em um tipo de visão estritamente econômica e financeira dos impactos das empresas.
Proteínas alternativas entram no cardápio para enfrentar os impactos ambientais da criação de gado

Três parâmetros são fundamentais para consolidar o mercado de proteínas alternativas: gosto, preço e percepção. Com base nestes três parâmetros, diversas empresas tem investido em desenvolver produtos com aceitação de mercado maior, com a utilização desde células tronco até compostos que mimetizam o gosto da carne. Já disponível em supermercados, pode ser um driver para impulsionar a conformidade na cadeia produtiva da proteína animal caso cresça e ocupe mais market share no dia a dia do consumidor.
Os reportes sobre emissões de carbono tornam-se mandatórios

Inicialmente utilizados para classificar as empresas de acordo com suas estratégias, planos, programas e projetos e avaliar a gestão de riscos climáticos, os reportes sobre emissões de carbono mudam de status e diversas métricas desenvolvidas pelo mercado (por exemplo o TCFD) são incorporadas em legislação pelos bancos centrais, exigindo que as empresas apresentem, além do resultado financeiro-econômico, os indicadores não financeiros de desempenho, sejam eles positivos ou negativos, e que tenham estratégia robusta para gerir tais impactos.
Tecnologias de eficiência hídrica ganham tração
“Climate change is the problem, Water is the messenger” – Jose Galindo, CEO da Waterplan
A adoção de premissas de economia circular e da ciclo hidrológico, bem como a necessidade de incrementar qualidade e quantidade de água tem criado os empreendedores no tema. Tem sido investido cada vez mais a reutilização de água, novas tecnologias e a avaliação do risco-água nos processos produtivos, o que permite planejar a curva de investimentos em novas tecnologias e incrementar a eficiência hídrica em indústrias, cidades e agriculturas, frentes fundamentais para enfrentar os riscos climático, hídrico e de biodiversidade.
Investimentos em Capital Natural despertam o interesse
O surgimento de métricas para avaliar os impactos ambientais das atividades econômicas e as estratégias para gerir os riscos sobre a biodiversidade, especialmente ao considerar-se o framework do TNFD, permite que surja o novo mercado da gestão positiva da biodiversidade, baseado em avaliação de estratégias, avaliação de riscos e oportunidades e publicização dos impactos, gerando transparência. A recuperação da biodiversidade até 2030 e além será responsável por uma grande tração na aplicação de ferramentas de gestão ambiental e da sustentabilidade pelas empresas e é um campo que tende a crescer exponencialmente, ao lado da gestão de carbono, visto serem as duas crises consideradas crises irmãs, na qual a gestão da biodiversidade é crucial para a gestão de carbono.
Tecnologias para Captura de Carbono captam recursos para expansão

Fonte: State of Green Business 2023
O investimento em novas tecnologias de larga escala para a captura e estocagem de carbono tem sido uma aposta de diversas startups e novas empresas em toda a OCDE e os recursos alocados para gerar soluções tem crescido também. O tempo cada vez mais exíguo para alinhar a curva de tendência de aumento de emissões à curva de emissões que estima a quantidade de CO2 que se deve emitir para atingir a meta de 1,5 grau centígrado de aquecimento até 2030 sugerem que as iniciativas atualmente existentes não serão suficientes para cumprir a meta (a rota de adaptação foi amplamente defendida na última COP). A observar e acompanhar a escala de investimentos e as soluções.
Inovação acelera a adoção de Circularidade nos modelos de negócios

Fonte: State of Green Business 2023
As dificuldades pelas quais as empresas passaram para gerir suas cadeias produtivas durante a pandemia funcionou como driver das estratégias para economia circular. Os conceitos da Economia Circular tem por premissa a promoção do descolamento das retas de consumo de recursos e crescimento de vendas, com objetivo de promover a desmaterialização pelo design mais eficiente de produtos e a utilização de recursos recuperados no processo de descarte. Um velho conhecido da Ecologia Industrial, o design for recycling, ganha importância nas estratégias das empresas e reduz a pressão sobre a extração de minerais e fibras, sobre a gestão de resíduos sólidos e rejeitos, efluentes e emissões, com a consequência de reduzir a pressão por explorar reservas de biodiversidade e abrir novas áreas para exploração de recursos.
Energias de fonte geotérmica emergem como alternativas para gerar independência de fontes instáveis e escala no consumo

Fonte: State of Green Business 2023
A crise energética pela qual passa a Europa, em virtude da guerra da Russia contra a Ucrânia e o comprometimento das fontes de energia, a necessidade de reduzir a curva de emissões de gases de efeito estufa pelos EUA e a necessidade de reduzir as emissões geradas pela produção de energia tem impulsionado novos estudos e projetos de geração de energia renovável. O estudo do GreenBizz demonstra que a energia geotermal tem sido encarada como alternativa efetiva para aumentar a disponibilidade de energia, reduzir a dependência de fontes externas de energia e obviamente necessidade grandes aportes de recursos.
Algumas conclusões
As tendências apontadas pelo GreenBiz e os dados apresentados vem demonstrando que há uma corrida por soluções para os problemas ambientais enfrentados em nível global. Conceitos como Economia Circular dando origem a estratégias de negócios e não somente o velho marketing, ações efetivas para encontrar soluções para os grandes desafios da humanidade até 2030, tais como fontes de energia para sustentar os processos sociais, redução da pressão sobre a biodiversidade e a reversão da tendência de destruição até 2030, a necessidade de rapidamente reduzir as emissões para aproximar a curva de emissões atuais da trajetória necessária para limitar o aquecimento global a 1,5 grau centígrado.
Empresas sustentáveis são cobradas por indicadores não financeiros robustos, mensuráveis e verificáveis, amparados em metodologias com ciência, submetidas a cada vez mais pressão para adaptar aos novos parâmetros do ambiente de negócios.
Tendo em vista a escala, a persistência e a potencial irreversibilidade dos problemas ecológicos e ambientais enfrentados com a produção de resíduos sólidos, de efluentes, emissões de gases, da perda intensa de biodiversidade devido a pressão por exploração de recursos acima da capacidade de regeneração, das mudanças climáticas impactando as cidades e o campo, e o impacto sobre a qualidade e quantidade dos recursos hídricos, com potencial para impactar os sistemas naturais das quais as atividades sociais, dentre elas a econômica, é crucial que as tendências e números apresentados sejam avaliados e passem a compor o monitoramento de mercado para gerar novas estratégias, sob pena de não haver adaptação possível.
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