É comum no meio científico afirmar que as mudanças climáticas irão certamente alterar o regime hidrológico, aumentar a evapotranspiração e causar chuvas mais fortes em boa parte dos países tropicais do mundo e que as estratégias futuras dos países deverá promover a mitigação do efeito estufa e a adaptação aos seus prováveis efeitos.
Certamente adotar estratégias de adaptação aos efeitos da mudança climática envolve investir em obras de infraestrutura. Como isso vai acontecer em países como o Brasil, que já tem um deficit grande de infraestrutura? Será que teremos políticos, políticas e instituições olhando para esta questão nos próximos quatro anos? Será dada a prioridade aos investimentos em infraestrutura urbana, em gestão de recursos hídricos, em prevenção de sistemas de alarme contra eventos extremos?
O que falar quando se olha para o que aconteceu em Santa Catarina, com inundações, Rio Grande do Sul, com furacões, Alagoas, Sergipe e Piauí, com inundações, ou o Rio de Janeiro, com deslizamento de encostas? Será que os governos federal, estaduais e municipais tem sido ativos em identificar os riscos, trabalhar com cenários, a partir destes cenários investir em estratégias de longo prazo e proteger a população brasileira destes eventos?
Creio que não. Se não houver uma vontade séria de planejar estas intervenções sobre o espaço urbano, elaborar planos diretores, investir em infraestrutura e, principalmente, realocar as populações de locais ambientalmente sensíveis para locais mais salubres, teremos uma monótona repetição de eventos extremos com perdas de vidas de muitos brasileiros todo ano, enquanto um governo federal, estadual ou municipal vai continuar fazendo um discurso fraco sobre desenvolvimento baseado somente em IPI de geladeira baixo.
Desenvolvimento, como bem sabem os outros países desenvolvidos, é ter uma gestão de riscos eficiente, estratégias de contingência em caso de eventos extremos, e aqui falamos de secas ou inundações, e uma população cobrando ativamente de seus governos eleitos a responsabilidade por elaborar tais estratégias.
Votar com base somente no aumento do consumo baseado em redução de impostos é desprezar as outras dimensões da vida humana que garantem bons índices sociais para os países.
Desenvolvimento não é só IPI baixo e geladeira nova. Tem várias questões éticas e pragmáticas que tem sido esquecidas pelos governos e empobrecendo a política brasileira.
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