ZAPQ – Cenários Sustentáveis

O Cenário mais provável é fazer acontecer a Sustentabilidade

Environmental Finance – Inverno 2013 – Artigo sobre investimento responsável

Artigo bastante interessante escrito por Rory Sullivan na revista Environmental Finance levanta os desafios para o investimento responsável em mercados emergentes.
O autor afirma que, ao mesmo tempo em que os mercados emergentes representam fontes de crescimento e retornos futuros, em virtude das características de população com crescimento positivo, necessidades de investimentos em infraestrutura e ativos imobilizados e o crescimento das classes médias, alguns problemas relativos a estas economias representam desafios significativos.
Falhas na governança, corrupção, desrespeito ás leis, desigualdade, pobreza, violações de direitos humanos, instituições fracas, falta de transparência e deficiências na proteção do meio ambiente são questões que permanecem como fragilidades. Tais questões tendem a ser intensificadas, pois são resultantes do crescimento econômico, que tem como consequência a expansão da competição por recursos naturais, como as florestas, terra agricultável e água, e o aumento da pressão sobre infraestrutura, muitas vezes insuficiente para sustentar as mudanças nas estruturas sociais e institucionais, como bem podem estar demonstradas nas pressões urbanas.
Na visão de Sullivan, quatro desafios específicos estão postos aos investidores:
1. O crescimento econômico não acompanha a evolução das instituições e mecanismos de governança permanecem fracos, com os lucros sendo apropriados por uma pequena elite econômica ou política;
2. A governança corporativa é crítica, visto que muitas práticas empresariais não acompanham as que são vistas e cobradas em mercados desenvolvidos;
3. As relações entre as questões sociais e ambientais emergem de forma significativa, aumentando a necessidade da consideração dos riscos nas planilhas de custos das empresas e exigindo das empresas mais mecanismos de interação com as comunidades locais, com o cálculo da capacidade de suporte do ambiente do qual depende para realizar suas atividades, as visões dos diferentes stakeholders (ONGs internacionais, comunidades locais).
4. Os níveis de investimento estrangeiro aplicados nos países emergentes são acompanhados por níveis maiores de inflação, com os impactos sobre os pobres e vulneráveis também incrementados. A exposição aos riscos do sistema financeiro internacional também apresenta consequências sociais para os países. Como exemplo, o autor cita que cerca de 20 milhões de trabalhadores chineses perderam seus empregos em virtude da crise do banco Lehmann, em 2008, praticamente da noite para o dia.
Ao apontar estes quatro desafios, qual seria a visão dele sobre o papel dos investidores nos países emergentes?
Pressionar por melhores padrões de governança, considerar as implicações ambientais e sociais de seus investimentos, continuar as melhorias progressivas em relação à governança corporativa e transparência são as ações que o autor considera ainda insuficientes nos fóruns de discussão sobre investimento responsável. Em suma, o autor acredita que o investimento responsável pode servir como pressão adaptativa sobre sistemas de governança nos mercados emergentes,numa visão bastante positiva sobre o tema.

Minha opinião: Não deixa de ser interessante que cada vez mais investidores se preocupem com os impactos sociais e ambientais de seus investimentos em países emergentes e que se comece a citar, como na fala de Sullivan, a necessidade de incrementar os mecanismos de governança em instituições públicas e corporações e as relações com o ambiente e a sociedade. Esta análise ainda mais apurada da viabilidade de investimentos quanto aos quatro desafios citados exige também uma maior pressão da sociedade de países emergentes sobre os governos, que devem garantir as melhorias de condições de vida ao receber estes investimentos.
Talvez como “estratégia” para aumentar a atratividade do Brasil para investimentos poderia-se estabelecer metas ambiciosas para a melhoria da saúde pública, da educação (usando padrões internacionais de avaliação), de saneamento básico, de mobilidade urbana. Creio que estes seriam sinais sérios de que o país está avançando na governança pública. Muitas empresas internacionais também poderiam deixar de fazer greenwashing no país e adotar de forma voluntária maiores padrões de transparência nas suas relações com governos e sociedades. Um caso claro de duplos padrões está presente nos escândalos relacionados às propinas pagas a pessoas de governos para viabilizar empreendimentos. Será que nos países de origem eles agem assim também? Quanto aos impactos sociais e ambientais e no relacionamento com as comunidades, sem dúvida a aproximação dos investidores com as comunidades onde ocorrem os investimentos produtivos ajudaria a consolidar o que poderíamos chamar de relação de simbiose entre estes e os impactos sociais e ambientais que causam. Não se gera corresponsabilidade apenas olhando gráficos de bolsas de valores.

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