Foi divulgado em 19.11.14 que as emissões de gases de efeito estufa no Brasil aumentaram em virtude do desmatamento e do uso de energias fósseis (aqui).
O aumento das emissões já era esperado em virtude do uso ininterrupto de termelétricas para compensar os baixos níveis dos reservatórios das hidrelétricas, causados pelas chuvas abaixo do historicamente esperado para a época. O que era uma opção de backup para a geração de energia hidrelétrica na nossa matriz energética passou a funcionar como garantia de fornecimento.
As chuvas em quantidades inferiores às médias históricas no país, que enchem os reservatórios e propiciam a geração hidrelétrica, tem sido atribuídas às consequências do desmatamento da Amazônia e a redução dos volumes de evapotranspiração geradas pelas florestas tropicais, que dão origem aos chamados “rios aéreos”, originados nas florestas, transportados para a atmosfera e que alimentam os corpos d’água.
Em ecologia trabalha-se o conceito de ciclos biogeoquímicos e um dos mais importantes é o ciclo hidrológico. A evapotranspiração transporta o vapor d’água para a atmosfera, os ventos o transportam sob a forma de nuvens para outras regiões e a condensação promove as chuvas, que alimentam as águas superficiais (rios e lagos) e subterrâneas (aquíferos). Por uma questão de lógica, quando mais evapotranspiração originada pela vegetação, especialmente pelas florestas tropicais, maior probabilidade de aumento de volume de chuvas.
Com o aumento das mudanças climáticas globais, teremos mais incerteza nos regimes de precipitação, de acordo com o IPCC. Se somarmos ao desmatamento no país e a percepção de que tais desmatamentos são inofensivos pelos lucram com a prática visando o curto prazo, há uma tendência clara a intensificar os impactos negativos causados pelo desmatamento e uso de energias fósseis.
As secas em todo o Brasil, especialmente em SP, MG e RJ, podem não ser apenas episódios isolados, pontos fora da curva normal de precipitação, mas sim um novo ponto de equilíbrio gerado pela reconfiguração dos volumes de água do ciclo hidrológico histórico.
Já é hora de implementarmos um grande programa de reflorestamento de margens de rios e de parar de derrubar florestas tropicais. Já estamos sofrendo os efeitos do desmatamento acima da capacidade de suporte e regeneração dos ecossistemas e os efeitos tendem a ficar piores, visto que uma perturbação sistêmica nesta escala tende a intensificar os efeitos negativos sistêmicos aproxima o sistema ao colapso.
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