A mudança de foco em relação às estratégias para combater os efeitos das mudanças climáticas é mais do que evidente pelo novo relatório do Banco Mundial. Se antes priorizava-se as estratégias de mitigação de emissões, a realidade do aumento contínuo de emissões se impõe. Países com grandes populações estão melhorando seu nível de renda e consequentemente alterando significativamente seu padrão de consumo. Mais automóveis, mais urbanização, mais consumo de energia, mais consumo de proteína animal e mais consumo de combustíveis fósseis, com os impactos associados às cadeias produtivas que sustentam os seus processos produtivos.
No relatório “Turn Down the Heat” o sinal está dado: Investir em estratégias de adaptação passa a ser urgente, considerando que os dados mundiais sobre consumo tem demonstrado uma tendência crescente de aumento das emissões e que não será possível frear o mecanismo que alimenta as emissões de gases de efeito estufa ou aumentar a e6ficiência produtiva de forma a limitar a 2º C o aquecimento global.
O recado dado pelo relatório é que estamos entrando em um tempo de um novo “equilíbrio normal”. Vem da ciência ecológica que os ecossistemas, quando sujeitos a um distúrbio suficientemente forte, caminham para um novo ponto de equilíbrio, em função do qual as relações entre os componentes do ecossistema são reorganizadas e que, dependendo da estrutura e da força das ligações entre os componentes, podem alterar profundamente a sua existência.
O quadro abaixo mostra de forma simplificada os principais riscos aos quais estaremos expostos e os principais efeitos sobre insumos fundamentais para nossa existência e sobre a qualidade de vida.
Mais uma vez a imprevisibilidade sobre os impactos advindos do novo normal serão responsáveis por episódios críticos aos quais teremos pouco tempo de adaptação. Os possíveis efeitos e riscos já foram apontados em diversos relatórios, muitos deles analisados no blog.
O aparecimento de novas doenças, a perda de safras, os episódios de secas, a desertificação, a alteração da distribuição de espécies em florestas, todos estes efeitos terão consequência direta sobre a nossa sobrevivência. Neste ponto, torna-se interessante analisar quais são as iniciativas dos governos para planejar as intervenções para reduzir os riscos e com quais cenários se trabalham os governos para reduzir os graves impactos sobre as populações (só vender ar condicionado subsidiado não é suficiente).
No Brasil, vemos de forma preocupante que nosso governo pretende expandir a exploração de combustíveis fósseis e aumentar a participação deste tipo de combustível no nosso grid. Seria interessante que o relatório fosse destrinchado pelo nosso Ministério de Minas e Energia, pelo Ministério do Meio Ambiente, pelo Ministério do Planejamento e, talvez, por todos os outros 36.
Estamos pagando toda esta estrutura justamente para que os riscos sejam mapeados e para que as prioridades em gestão sejam escolhidas. Não me parece que o caminho seguido leve em consideração tais riscos. Os problemas que enfrentaremos em curto e médio prazo em virtude das mudanças não-lineares e do novo ponto de equilíbrio terão efeitos profundos sobre a produtividade, a agricultura, a produção de energia, a qualidade de vida e a saúde pública.
Espero que o governo esteja de olho nisso, apesar de todos os sinais de que não estão dando a mínima para o assunto.
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