Pode parecer surpresa a meta para redução de emissões de gases de efeito estufa nos EUA, pois nos acostumamos (alguns, ao menos) a apontar o dedo para culpar o país por uma série de problemas ambientais globais. Sem dúvida os EUA são os maiores emissores históricos de Gases de Efeito Estufa e enfrentam crises sem precedentes com relação aos recursos hídricos em alguns estados, porém não se pode negar o potencial de inovação que o país carrega e como as inovações podem levar o país novamente à liderança global em soluções.
Em fevereiro foi lançado o relatório “State of Green Business 2015” (acho obrigatório para quem estuda Gestão Ambiental e Planejamento). Neste relatório os editores apontam as tendências para 2015 em meio ambiente e sua relação com as empresas, bem como indicadores claros de gestão ambiental e a evolução do tema no país.
As 10 tendências mais importantes apontadas pelo trabalho para 2015 são as seguintes:
1. Stranded Assets (ou estoques encalhados, em tradução livre)
O tema tem ganhado relevância e já havia escrito sobre ele antes. O risco de taxação do carbono e a intensificação dos efeitos das mudanças climáticas podem tornar a extração de combustíveis fósseis inviável. De acordo com cálculos realizados por gestores de fundos ambientais, de 60 a 80% das reservas de carvão, óleo e gás seriam não utilizáveis, ao se considerar o limite de aumento de no máximo 2ºC na temperatura global.
Isso significa que as grandes empresas globais relacionadas à produção de combustíveis fósseis tem que se reposicionar ou correr o risco de perder valor para seus acionistas. Adicione-se ao risco a crescente percepção de fundos de investimento sobre o tema mudanças climáticas, que resulta em pressão por desinvestir em empresas com alta geração de GEE, a maior regulação aplicada ao tema e atribuição de valor econômico negativo ao carbono emitido.
2. Soluções em sustentabilidade tornam-se abertas e distribuídas
Cada vez mais as soluções são abertas, com colaboração de diferentes pessoas, com diferentes backgrounds, visando gerar mais inovação. A época das inovações sendo geradas em sistemas fechados está caindo.
3. Cadeias de fornecimento
Torna-se cada vez mais importante traçar e identificar a história, distribuição, localização e aplicação de produtos, parte e materiais para assegurar a credibilidade dos fornecedores com relação a temas cruciais como diretos humanos, saúde e segurança no trabalho, meio ambiente e corrupção.
4. Risco hídrico
A escassez da água não é um problema apenas de São Paulo, Rio de janeiro e Nordeste. O cálculo do risco hídrico começa a entrar no processo de decisão das empresas e no planejamento estratégico.
5. Energias renováveis
Grandes empresas entram no mercado de renováveis agindo para aumentar a competitividade das energias renováveis com as fontes não-renováveis. No texto, explicita-se o papel da IKEA, uma das maiores empresas globais de móveis e utensílios domésticos, em produzir sua própria energia.
6. Metas baseadas em dados científicos
As certificações em sustentabilidade ficarão cada vez mais restritas, com maiores questionamentos em relação aos indicadores utilizados e cada vez mais serão explicitados os furos nas abordagens corporativas, muitas vezes baseadas em greenwashing.
7. Gestão da perda de alimentos
A perspectiva de alimentar 9 bilhões de pessoas em 2050 coloca a necessidade de aumentar a eficiência da produção de alimentos em relação à redução de perdas. De acordo com a FAO, cerca de 1/3 (UM TERÇO!!!) dos alimentos produzidos anualmente são perdidos.
8. Gestão de investimentos
Há um nítido fluxo de investimentos para projetos sustentáveis. O reconhecimento das questões ambientais como riscos para a atividade das empresas faz com que os investidores comecem a analisar os projetos com relação aos seus efeitos ambientais e direcionar recursos para empresas com modelos de negócios que reconheçam e mitiguem possíveis impactos adversos. Em 2014 foram US$ 500 bilhões em investimento em tecnologias limpas.
Três tipos de empresas ganham com isso: As que usam recursos com mais eficiência, as que produzem serviços para clientes tornarem-se mais eficientes e aqueles que investem na inovação.
9. Cidades e negócios
As cidades resilientes entram no radar. A capacidade das cidades em absorver choques ambientais e manter e melhorar seus sistemas de informação e energia, a qualidade de vida da população e suas economias.
10. Investimento em conservação
Estima-se que as necessidades globais de investimento em conservação ambiental chegam a US$ 300 bilhões, porém os governos, agências multilaterais e filantropia conseguem levantar US$ 50 bilhões em recursos.
Para enfrentar os desafios de pagamentos por bens e serviços ambientais, consolidação de unidades de conservação, recuperação de áreas degradadas, resiliência climática e eficiência energética são necessários novos instrumentos de captação. Mais uma vez são necessários projetos viáveis, com risco-retorno adequados.
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