O Especial da revista “The Economist” sobre as Mudanças Climáticas apresenta uma visão interessante da evolução do fenômeno e como a espécie humana deveria enfrenta-lo.
São nove artigos onde se aborda o tema em diferentes visões.
O primeiro artigo mostra que, apesar das conferências globais, a concentração atmosférica do CO2 passou de 361ppm para 399ppm, mesmo considerando o avanço dos investimentos em energias renováveis, e que as abordagens deveriam efetivamente apontar para o investimento em adaptação. As tendências apontadas no artigo para o uso de energia ainda mostram que mesmo que a China reduza a emissão de gases de efeito estufa originárias do carvão, a Índia está entrando num momento de expansão do uso de combustíveis fósseis e expansão de infraestrutura que provocará maior emissão e que ainda mais investimento em pesquisas serão necessárias para que se crie um efeito compensador.
O segundo artigo mostra as incertezas sobre as pesquisas em mudanças climáticas, ressaltando, no entanto, que há evidências científicas suficientes para avançar em iniciativas para mitigação e adaptação e que o problema é efetivamente um grande risco para a humanidade. Alerta-se, com razão, para o chamado efeito sinérgico (feedback loops) das interações, que intensificam o fenômeno das mudanças climáticas ainda mais e que causariam os efeitos adversos das interações não lineares, imprevisíveis quanto à extensão e a irreversibilidade dos impactos.
O terceiro artigo remete à percepção da importância do tema pela população em geral e a relação desta aceitação em função das crenças e identificação com determinados grupos políticos. A identificação das mudanças climáticas com as ideias liberais e a consequente resistência dos conservadores em aceitar as evidências científicas e mesmo combate-las é reflexo deste conflito ideológico.
O quarto artigo demonstra as oportunidades em energias renováveis, especialmente a solar e a eólica, mas aponta fragilidades em determinadas estratégias, especialmente a alemã. Demonstra que as taxas de energia são maiores para subsidiar a energia renovável e que a intermitência continua a ser um problema.
O quinto artigo discorre sobre a China e o grande movimento de limpeza da sua matriz energética, intensamente dependente do carvão e cujo aumento do número de usinas reflete o crescimento econômico experimentado nos últimos anos, bem como o recebimento das indústrias do mundo todo em seu território, com as consequências sociais e ambientais associadas à queima do carvão. No artigo se aponta, no entanto, que depois da fase de expansão da infraestrutura poderá haver um arrefecimento da demanda pelas indústrias intensivas em uso de carvão, como o aço e o cimento, mas o consumo de energia de eletrodomésticos aumentará em função da população e da maior afluência.
O sexto artigo demonstra iniciativas já em andamento para adaptação dos países mais pobres aos efeitos das mudanças climáticas. A intensificação dos eventos extremos em virtude da maior energia presente no sistema climático causaria mais inundações, ciclones e outros eventos que necessitam de investimento em infraestrutura para proteção da população e suas atividades econômicas. O artigo introduz a lógica do “free-rider”, onde o indivíduo por si só tem poucos incentivos a pensar no longo prazo e alterar o comportamento, mas responde rapidamente aos eventos críticos de curto prazo. Além disso, cita-se a adaptação das culturas anuais em virtude da alteração dos ciclos de chuvas e secas na África. Há uma pergunta interessante ao final sobre qual a maior urgência nas comunidades: investimentos em saneamento e saúde ou energias limpas, o que parece ser um debate interessante.
O sétimo artigo é sobre biodiversidade e a inevitável extinção que ocorrerá em virtude das diferentes capacidades de adaptação às mudanças de determinadas espécies às mudanças rápidas de condições em seus habitats, com a sugestão de realocação em habitats semelhantes. O artigo sugere que as tradicionais iniciativas de conservação podem ser insuficientes em virtude da escala e da velocidade das mudanças.
O oitavo artigo fala sobre geoengenharia. A alteração deliberada do clima em larga escala para evitar os efeitos disruptivos das mudanças climáticas. E as ideias são muito interessantes, custosas e, principalmente, sem sucesso garantido. O artigo aponta, no entanto, para tecnologias a serem utilizadas se todo o arsenal de iniciativas atualmente for insuficiente, o que, analisando as tendências de consumo de energias fósseis para alimentar a economia global e a entrada de novos contingentes de consumidores, parece o cenário mais provável.
O nono e último artigo refere-se às diversas iniciativas a serem discutidas para reduzir as emissões: as taxações do carbono emitido, o cap-and-trade com licenças para emissão negociáveis em mercado e, principalmente, as pesquisas em inovação que poderiam ser financiadas ao invés dos grandes subsídios em produção de energia.
De forma geral, vale a pena ler os artigos completos. Eles apontam para possíveis encaminhamentos que surgirão da COP-21 e apresentam a visão da Economist sobre o tema. Ressalto que é uma visão bastante realista dos limites das abordagens hoje existentes, o que vem a ser uma característica histórica da publicação. Cita especificamente o pesquisador Bjorn Lomborg, tradicionalmente conhecido pelo combate aos investimentos em mitigação de emissões de gases de efeito estufa em detrimento de outras demandas mais urgentes das sociedades, tais como saúde e saneamento, no entanto é uma opinião interessante, considerando a necessidade de questionar sempre nossas ideias pré-concebidas.
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