Uma leitura bastante interessante sobre o cenário da produção de energia atual e os futuros desenvolvimentos e tendências foram apresentados no livro “Energy and the Financial System – What every economist, financial analyst, and investor needs to know”. Comprei-o durante a Conferência Internacional para Economia Ecológica e o autor apresenta questões lógicas e interessantes para que se pense o futuro e suas consequências, no que diz respeito às finanças, sustentabilidade e energia.
O principal conceito trabalhado pelo autor Roger Boyd, que trabalhou no mercado financeiro durante anos, é que nossa civilização é viciada em energias fósseis e que este vício nos levou a uma situação que os norte-americanos chamam catch-22. Não temos hoje e, considerando o conhecimento atual e os cenários traçados pelos autor, não haverá alternativas viáveis, com as características dos combustíveis fósseis, levando a uma inevitável situação onde a sociedade terá de abrir mão de certas comodidades que são dadas por certas.
Ele trabalha o conceito de EROI – Energy Return on Investment, calculada a partir da energia necessária para produzir mais energia. Segundo sua análise, os mais viáveis e com maior retorno para investidores são os combustíveis fósseis, porém, com a depleção dos recursos mais baratos para extração, o EROI tem diminuído cada vez mais para os recursos não-renováveis, posicionando os renováveis, usualmente necessitando de maior investimento para desenvolvimento, como viáveis em comparação com os primeiros.
A fórmula (simplificada) para cálculo do EROI seria a energia produzida dividida pela energia gasta para produzi-la. Entram no cálculo, no entanto, os limites biofísicos para emissão de gases de efeito estufa e sua relação com a disponibilidade e custo de extração de combustíveis fósseis, especialmente o petróleo, carvão e gás natural. A medida em que tais limites se aproximam, o custo e o risco para a sociedade tornam-se cada vez maiores, com impactos sobre todo o sistema financeiro. Este texto pode ser considerado uma pedra fundamental da análise sobre a energia e o sistema financeiro.
O EROI lembra o cálculo realizado para analisar a depleção de estoques pesqueiros, bem como o esforço de pesca, que é uma função da quantidade de combustível fóssil utilizada para obter uma quantidade x de pescado, e que aponta o nível de comprometimento ecológico dos estoques de pesca, causados pela atividade em níveis superiores à capacidade de suporte e da recuperação ecológica destes estoques.
Nosso sistema de produção, consumo e descarte depende do petróleo, carvão e gás natural para funcionar. Estes três componentes geram 96% da energia global consumida. Deste sistema também dependemos da capacidade das empresas em gerar retornos crescentes e contínuos para pagar impostos para governos, gerar retornos para aposentadorias, gerar títulos e investimentos em empresas privadas, apesar dos limites claros e evidentes de que a extração indefinida de materiais, conjugada ao descarte de resíduos, poderá comprometer a capacidade deste planeta de nos sustentar.
Qual a novidade da abordagem? O livro apresenta evidências, fatos, números. É fato a sobrepesca, são fatos as zonas mortas nos encontros de rios com o mar, são fatos o descarte inadequado de resíduos, as externalidades geradas por qualquer tipo de geração de energia e que os substitutos para os modos tradicionais de geração fóssil não apresentam as mesmas eficiências e precisam ser intensivas em capital.
Não se trata de ser neomalthusiano aplicado à perspectiva energética. Há limites biofísicos e ecológicos que se contrapõe diretamente aos objetivos econômicos, sem que um ponto de equilíbrio seja encontrado. Cerca de 2,2 bilhões de pessoas na Índia e China serão incorporadas à sociedade do consumo. Uma economia circular torna-se um imperativo, porém mesmo a reciclagem de elementos encontra um limite técnico de qualidade.
A grande conclusão do livro é alertar que em médio e longo prazo seremos obrigados a refazer os cálculos econômicos sobre os quais nossa sociedade se assenta. Os retornos serão ainda mais decrescentes, a energia não será completamente renovável e é bem possível que enfrentemos diversos colapsos em nossos modos de produção para os quais nossa espécie não está preparada, especialmente aquelas mais viciadas em energia.
Sugiro a leitura. O autor apresenta um risco considerável que, confirmado, nos deixará com tarefas árduas e crises sociais relacionadas ao acesso e gestão de recursos naturais e perda possível de processos ecológicos que sustentam a humanidade.
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