Um novo relatório publicado pela Agência Ambiental Europeia denominado “Sustainable Transitions: Now for the long term” aponta tecnologias que já estão sendo implementadas na União Europeia com potencial para promover uma alta qualidade de vida com menor impacto ambiental.
Trazendo de volta a identidade IPAT para a análise, o impacto ambiental de determinado estilo de vida é proporcional à afluência, à população e às tecnologias utilizadas para produção. Deste modo, altos padrões de vida dos países da Europa estão relacionados à maior pegada ecológica.
Outro conceito importante que permeia o trabalho é dependência dos sistemas sociais, incluindo os processos econômicos, da integridade e resiliência dos ecossistemas para assegurar a continuidade das relações.
Este conceito vem da Economia Ecológica, bem como o de bem-estar dentro dos limites dos Ecossistemas, o que remete diretamente aos conceitos de capacidade de suporte trabalhados na ciência ecológica.
As iniciativas exemplificadas no relatório referem-se à necessidade de uma transição acelerada dos processos produtivos menos eficientes sob o ponto de vista ambiental para os processos mais eficientes.
O primeiro refere-se à iniciativa Zero-Gachis, onde uma rede de supermercados na Europa que está se organizando para reduzir a quantidade de alimentos perdida por ano.
A segunda iniciativa apresentada é o avião movido a energia solar. Os transportes representam uma grande parte das emissões globais de gases de efeito estufa e a utilização de fontes de energia renováveis para promover a mobilidade tem efeitos sinergísticos na redução de emissões totais.
A terceira iniciativa é a transformação de terrenos urbanos sem utilidade em áreas agricultáveis voluntariamente e exemplificada pela Princes Gardens.
A quarta iniciativa refere-se às empresas que recuperam móveis e promovem sua reinserção nos espaços. Deste modo elimina-se a necessidade de compra de novos produtos e obedece-se à hierarquia do uso de materiais para conservar valor e reduzir perdas de energia, conforme disposto na figura 2.6.
A quinta iniciativa é a criação de uma pressão adaptativa para mover a indústria automobilística para padrões de uso de combustíveis mais eficiente. O uso das políticas públicas para gerar mais eficiência é uma ação já conhecida e que tem sido responsável por criar automóveis mais eficientes e menos poluentes.
A sexta iniciativa é utilizar o poder de compra dos consumidores para induzir cadeias produtivas mais sustentáveis em escala global. As certificações ambientais, ou socioambientais, asseguram que o consumo dos indivíduos também funciona como pressão adaptativa sobre processos produtivos não locais, exigindo maior valor agregado dos produtos.
A sétima iniciativa é catalisar a mudança das fontes de energia para veículos, movendo dos fósseis para a energia elétrica. Tem sido política adotada por diversos países europeus comprometer-se com a eliminação de veículos movidos por combustíveis fósseis, promovendo mais eficiência por quilômetro rodado.
A oitava iniciativa citada é a construção de redes de produtores orgânicos locais que entregam seus produtos diretamente ao consumidor, sem necessidade do ponto de venda. Esta iniciativa fomenta a produção orgânica e aproxima as ofertas locais de alimentos aos consumidores.
A nona iniciativa refere-se à constituição de municípios carbono-neutros, onde por meio do planejamento público integrado incorpora-se como premissa a neutralização das emissões de gases de efeito estufa nas localidades. É uma iniciativa que tem ganho adeptos em municípios em todo o mundo, inclusive nos EUA.
Todas estas iniciativas pretendem ter como resultado a alta qualidade de vida integrada aos limites ambientais mais do que explícitos. Como se pode perceber, vários dos atores sociais (governos, consumidores e empresas) podem funcionar como geradores de pressão adaptativa sobre processos produtivos, gerando as transições necessárias para um mundo sustentável, dentro dos limites ecossistêmicos.
Estas iniciativas são catalisadoras de mudanças e geradoras de inovação, onde os processos produtivos sustentáveis emergem como geradores de empregos e renda para as mais diversas camadas da sociedade, gerando também capital social e recuperando capital natural.
Muito importante também são as premissas de onde partem: O ponto de partida das iniciativas é a Economia Ecológica, onde os diversos sistemas sociais dependem fundamentalmente do sistema Ecológico. Vemos elementos também da Ecologia Industrial, quando na figura 3.4 aparecem vários critérios de avaliação de impacto sobre o meio ambiente que extrapolam as mudanças climáticas. Cada um destes critérios apresenta limites que devem ser respeitados para afastar o risco de disrupção dos ecossistemas, visando avançar-se em direção a uma sociedade inclusiva, de alto capital social, com capital natural preservado, voltada para o desenvolvimento sustentável.
Nunca é demais lembrar que dentre os grandes desafios da humanidade estão a de produzir uma economia sustentável, inclusiva e de baixo carbono, respeitando os direitos humanos e promovendo oportunidades. As oportunidades podem estar ligadas à Economia da Recuperação Ambiental.
Deixe um comentário