Entrevista com David Casale, engenheiro e diretor no banco Turkoise International, especializado em meio ambiente e energia, mostra com clareza (link) que é necessário, mais do que nunca, uma reality check, algo que chamaríamos de freio de arrumação, para que a devida importância seja dada ao tema Mudanças Climáticas e que sejam realizadas ações efetivas com base nos fatos científicos divulgados ano a ano.
Os dados mostram que adicionamos 36 bilhões de toneladas de CO2 por ano à atmosfera, com incremento constante de 2 partes por milhão desde 1992. Esta quantidade de carbono adicionada vem reduzindo a probabilidade de limitar a mudança climática a 2 graus centígrados, fato que aumenta a probabilidade de eventos climáticos extremos não lineares.
Tudo isso apesar dos investimentos em energias renováveis, ganhos de eficiência e diversas ações implementadas nos últimos anos. A reality check sugerida por David é que se deixe de considerar somente a pegada de carbono (carbon footprint) por país, visto que a globalização pulverizou as fronteiras de negócios e serviços e desconcentrou a produção industrial para países em desenvolvimento (a China é a indústria global) e volte-se a considerar o cenário global, visto que as emissões não conhecem os limites políticos.
Parte do que David Casale fala já havia sido comentada no blog. Algumas ideias, como a abordagem de responsabilidade comum mas diferenciada, atribuindo maior peso aos países que historicamente emitiram mais, atrasou as soluções para os problemas relacionados às mudanças climáticas e reduziu o tema a um repasse de recursos de países desenvolvidos aos países em desenvolvimento. Como parte dos esforços para empurrar as responsabilidades e atrasar soluções, os países começaram a falar em emissões per capita para justificar não tomar posição diante do grave problema e para justificar o aumento das emissões para melhorar as condições de vida das populações. A justificativa de não frear o desenvolvimento econômico levou à intensificação de problemas.
Além disso, apesar do gravíssimo problema que representam as mudanças climáticas e suas prováveis consequências sobre a produção de alimentos, saúde pública e qualidade de vida, há outros componentes de impactos ambientais importantes que tem sido relevados, infelizmente. A contaminação por químicos, acidificação, eutrofização, toxicidade de produtos, escassez de água, gerenciamento de resíduos sólidos insuficiente. Todos estes componentes agregam complexidade ao problema, visto que os feedbacks entre tais componentes e os impactos que causariam não são ainda plenamente conhecidos e que as propriedades emergentes das interações podem causar impactos ainda piores sobre o sistema ecológico global.
Passa a ser ainda mais preocupante que os políticos e os gestores, públicos e privados, se preocupem mais em fazer relações públicas do que tomar decisões baseadas em evidências científicas. Se o que se espera é somente a próxima eleição, para os políticos, ou o próximo balanço, para os gestores privados, há um outro grave problema engendrado pela falta de percepção da gravidade dos problemas: O completo descolamento das atividades dos gestores das necessidades dos cidadãos. E isso traz o caos para o dia a dia.
Deixe um comentário