Um capítulo bastante interessante do relatório “Towards a Green Economy: Pathways to Sustainable Development and Poverty Eradication”, lançado pela UNEP em 2011 como texto preparatório para a Rio +20, é o financiamento da Economia Verde e das áreas relacionadas como cruciais para realizar este investimento (análise do documento foi feita pelo blog em 2011 aqui).
Como reportado no blog, diversos bancos tem sido constituídos com a finalidade específica de captar recursos públicos e privados para investimento em áreas relacionadas à mobilidade urbana, saneamento ambiental (água, saneamento, gestão de resíduos sólidos), energias renováveis, retrofitting de edifícios, dentre outros. O Banco Verde da Inglaterra é um exemplo, que recentemente captou recursos no mercado (aqui), o de Nova Iorque (aqui) são outros exemplos.
O banco holandês Nederlandse Waterschapsbank (NWB) emitiu títulos de captação “verdes” no valor de US$ 680 milhões para financiar projetos para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas no país. Os projetos serão utilizados pela autoridade holandesa responsável pela gestão de recursos hídricos em três áreas: Mitigação de efeitos de mudanças climáticas, especificamente na redução do uso de energia, geração de biogás, transporte eficiente e tratamento de esgotos (waste water), Adaptação aos efeitos das mudanças climáticas, especificamente em infra-estrutura para proteção contra alagamentos e enchentes e estocagem de água e Programas de biodiversidade, incluindo manutenção da qualidade da água e melhorias no saneamento básico.
A emissão de títulos para captação de recursos privados por instituições financeiras não é uma ação inédita nem novidade no mercado financeiro. É feita há séculos e é a base do sistema financeiro. O aparecimento de instituições financeiras devotadas a emitir títulos para investimento privado em questões relacionadas à sustentabilidade, sim, é novidade. Evidências tem aparecido de que os projetos relacionados à sustentabilidade tem retorno financeiro adequado quando comparados às demais alternativas de investimento.
Há bancos brasileiros que já descobriram que este pode ser um filão interessante. O BTG declara a gestão de ativos florestais no valor de US$ 3 bilhões em 716.000 hectares localizados na América Latina, EUA, Europa e África, O Itaú captou US$ 300 milhões junto ao Banco Mundial para aplicação em projetos de energia renovável e eficiência energética em empresas. A CEF já aplica recursos em saneamento básico e gestão de resíduos. O que era considerado um nicho, o investimento em projetos com pano de fundo socioambiental, em alguns anos pode tornar-se o mainstream e trazer muito retorno para as instituições pioneiras.
Tais ações de captação poderiam ser utilizadas também para resolver o passivo brasileiro no saneamento, desde que os instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos (lei 9433/97) sejam adequadamente implementados. A gestão de bacias hidrográficas necessidade de recursos para ocorrer. A construção de sistemas de captação, tratamento e distribuição de água, de coleta e tratamento de esgotos, a recuperação de margens de rios para melhoria da qualidade e quantidade de água para a população e processos produtivos regionais, são todos projetos que necessitam de recursos.
Desde que haja disposição, os bancos poderiam ter uma participação ativa na gestão de recursos hídricos, de forma a fomentar a constituição de Comitês de Bacias e deles participar, agir como agente financeiro das Agências de Águas, com a implementação do pagamento de bens e serviços ambientais, cobrança pelo uso da água, pelo financiamento de empreendimentos necessários para melhoria da qualidade e quantidade de recursos. Vamos fazer…
Links para o que foi publicado sobre o relatório “Towards a Green Economy”
Download do material completo.
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