Além das simplificações obtusas que ouvimos durante a campanha eleitoral, donde já citamos as grandes ausências do debate político, o texto publicado pelo Valor Econômico de hoje demonstra os efeitos sinergísticos do desflorestamento da Amazônia e de como estas ações afetam diretamente o ciclo hidrológico. Não adianta culpar o Alckmin pela falta de chuva em São Paulo quando o governo federal deixa de fiscalizar o desmatamento da Amazônia e considera este fato uma questão menor.
Quando se estuda ecologia, e as crianças e adolescentes estão aprendendo os conceitos cada vez mais cedo, aprende-se sobre os ciclos. Ciclo do carbono, ciclo do nitrogênio, ciclo hidrológico. Aprende-se que a natureza, organizada em ecossistemas e cadeias alimentares sujeitas aos fatores bióticos e abióticos, sustenta seus processos pela ciclagem de nutrientes e que a quebra desta ciclagem exige adaptações do ecossistema às novas condições de equilíbrio, com alterações transitórias ou permanentes na composição destes ecossistemas.
Estamos passando por alterações significativas do nosso ecossistema. Há alguns anos temos lido que os reservatórios estão com menos água, que a geração de energia estará comprometida, que a seca de 2010 na Amazônia pode não ter sido um episódio isolado. As novas secas deste ano, em diversos estados do país, mostram que podemos estar muito perto de um colapso. Lembremos que grande parte do que o Brasil produz está baseado no agronegócio, e que o agronegócio é responsável pelo consumo de 60 a 70% de todos os recursos hídricos do país.
A gestão de florestas brasileiras, a recuperação das áreas de preservação permanente, a cobrança pelos recursos hídricos para utilização em obras de infraestrutura nas bacias hidrográficas e o pagamento por bens e serviços ambientais prestados pelas florestas podem representar tentativas iniciais de retardar crises de maior intensidade e frequência. Em épocas de crise, como agora, são necessárias ações efetivas de gestão ambiental pública muito além do que aquelas que o Diretor-presidente da Agência Nacional de Águas fez nas duas últimas semanas, de jogar politicamente a culpa para o governador de São Paulo para ajudar seu partido nas eleições para a presidência da república.
Até agora as respostas para a crise hídrica foram absolutamente tímidas. Não há modo simples de resolver tais questões, mas não há como esperar ainda mais que a solução caia do céu. Há evidências científicas para alimentar a preocupação.
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