A elaboração de cenários serve para avaliar as tendências, identificar temas emergentes e gerar incertezas que podem influenciar a atividade das instituições.
Tais cenários indicam para a alta administração, no caso de empresas, os riscos, potencial de impacto e probabilidades de ocorrência de eventos que podem servir como oportunidades ou, em último caso, encerrar as atividades, caso não haja adaptação de estratégias.
Sendo verdade isso quando se aplica a empresas, imaginemos o potencial de dano quando se trata do planeta Terra, sede de todas as interações sociais, econômicas e ambientais da espécie humana.
O Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum) publica anualmente o relatório de riscos globais, avaliados pelo blog desde 2015 (veja 2015, 2016, 2018). Neste fórum estão reunidos líderes empresariais e governamentais globais, com alto potencial de produzir e direcionar os esforços globais, onde diversos relatórios técnicos são lançados e avaliados e os grandes temas, na visão destes líderes, são discutidos.
Um dos relatórios mais relevantes, com periodicidade anual, é o de Riscos Globais. Este relatório emerge do trabalho de diversos especialistas e pretende demonstrar os riscos, cruzamento de probabilidade e impacto provável, aos quais o planeta e a humanidade estariam sujeitos.
Em 2019 os especialistas identificaram riscos relacionados aos eventos climáticos extremos, às falhas em mitigação ou adaptação às mudanças climáticas, desastres naturais, ciberataques, desastres ambientais causados pelo homem, crises na água e colapsos em ecossistemas e perda de biodiversidade, todos estes com alto potencial de impacto e alta probabilidade de ocorrência, conforme demonstra o gráfico abaixo.

Fonte: Global Risks Report 2019 – World Economic Forum
Considerando o que tem sido noticiado, publicado em periódicos científicos e tem sido fartamente divulgado, vários dos riscos já se tornaram realidade e deveriam ser priorizados em qualquer agenda de governo, visando proteger sua própria população e aos processos ecológicos que sustentam as atividades econômicas, bem como aqueles que podem comprometer a qualidade de vida de suas populações.
Outro gráfico interessante é a interrelação entre os riscos identificados e as tendências existentes. Do intercruzamento entre os dois temos a intensidade da mudança e os efeitos que poderão causar nas sociedades humanas.

Destaca-se aqui a profunda instabilidade social que avizinha-se, de acordo com os especialistas consultados, em se mantendo a tendência de polarização das sociedades (que temos observado não somente no Brasil), nacionalismo e concentração de renda, dentre outros. A soma dos efeitos tem potencial explosivo nos países, somando aí ao comprometimento da base de recursos naturais necessária para as atividades econômicas que sustentam a humanidade.
Na terceira figura avaliada, a proposta é um diagrama de feedbacks positivos, ou seja, fatores interligados que intensificam os efeitos dos riscos observados. Este tipo de análise é eficiente para demonstrar que há uma relação de dependência entre os fatores e que podem ocorrer ainda efeitos sinergísticos não lineares, intensificando exponencialmente a velocidade das mudanças.

A importância de mudanças não lineares e sinergísticas é que elas mudam a estrutura do ecossistema, visto que não permitem aos integrantes uma adaptação adequada às novas condições.
Uma ruptura nos nós de rede com maior impacto e probabilidade de ocorrência, citados anteriormente, tem efeitos sinergísticos sobre todos os fatores a eles interligados. Eventos climáticos extremos, falhas na mitigação e adaptação às mudanças climáticos, crises na produção de alimentos, falhas em governança nacional, migração involuntária e instabilidade social, dentre outros fatores, estão interligados.
A evolução das tendências, bem como a probabilidade de ocorrência e a intensidade avaliadas demonstram que podemos estar no limite de uma ruptura de larga escala sob o ponto de vista ambiental, com implicações igualmente largas para a estabilidade social nos países e perdas econômicas significativas.
Tais informações são sinais do ambiente para governos, empresas e cidadãos, que precisam incluir a gestão de riscos em suas estratégias. Estes sinais de que os riscos associados à degradação das condições ambientais estão aumentando a probabilidade de ocorrência e o impacto já tem sido deslocados no gráfico para uma maior relevância no planejamento.
O princípio da precaução deveria nos guiar no que tange à consideração de tais riscos, pois a própria base de suporte à vida pode estar seriamente comprometida e gerar efeitos negativos sinergísticos sobre a estabilidade social, governança estatal e processos econômicos que sustentaram a espécie humana.
Para os interessados no texto completo, façam o download no link WEF_Global_Risks_Report_2019.
Deixe um comentário