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Economia Ecológica e Ecologia Industrial – contribuições para a Economia Circular

Artigo científico importante foi publicado em janeiro de 2019 no Journal of Industrial Ecology no volume 23, pelos pesquisadores Aurelien Bruel, Jakub Kronenberg, Nadege Troussier e Bertrand Guillaume, intitulado “Linking Industrial Ecology and Ecological Economics – a Theoretical and Empirical Foundation for the Circular Economy”.

A proposta para discussão assenta-se nas interseções entre os conceitos basilares da Economia Ecológica e da Ecologia Industrial e o estabelecimento da Economia Circular.

A Economia Circular refere-se a um modelo de produção e consumo de bens que extrapola o processo linear baseado na extração, produção, consumo e descarte, propondo como modelo de produção a circularidade do uso de materiais, a eficiência e as energias renováveis como ponto de partida para uma evolução nos modelos de produção e consumo.

Os autores pretendem com o artigo avaliar as intersecções dos conceitos teóricos da Ecologia Industrial e da Economia Ecológica e suas contribuições para o aumento da eficiência produtiva de acordo com os limites dos ecossistemas dos quais as atividades econômicas dependem.

A fundamentação teórica da Ecologia Industrial, segundo os autores do artigo, é a analogia com os processos de ecossistemas naturais, na proposta de transformar processos industriais em processos cíclicos, reduzindo o impacto sobre o sistema ecológico, do qual o subsistema econômico faz parte.

Para a transformação em processos cíclicos exige o fechamento de ciclos materiais e de energia, eficiência energética e a desmaterialização, utilizando para tanto modelos para manufatura sustentável e o design de produtos e processos mais eficientes.

Os processos industriais são descritos como uma configuração de processos de estoques e fluxos de matéria, energia e informação, com o uso de diferentes ferramentas e métodos para avaliar os impactos ambientais durante o ciclo de vida de produtos e serviços.

Para a Economia Ecológica o objeto de estudo são as interações entre a economia, a sociedade e o ambiente, visando construir políticas ambientais ou de sustentabilidade que reduzam a pegada ambiental da produção econômica. Neste ponto, o sistema produtivo é conceituado como materialmente fechado e energeticamente aberto, com capacidade limitada de funcionar como fonte de recursos ou sumidouro de emissões e resíduos sem que haja um colapso dos sistemas de suporte à vida.

O conceito fundamental da área de pesquisa são as leis da termodinâmica e sua relação com a Economia, cujos conceitos foram primeiramente construídos por Nicholas Georgescu-Roegen, focando na necessidade de reduzir a degradação entrópica dos sistemas ecológicos.

Adequar os sistemas produtivos aos conceitos da Economia Ecológica exigem não somente uma adequação técnica ou aumento da eficiência, mas também a reflexão sobre as necessidades de consumo. Sob esta perspectiva, agrega-se a “suficiência” do que é produzido, visto a capacidade limitada de extração e assimilação de impactos.

O modelo de gestão ambiental que incorpora tais conceitos deveria agregar a conservação da biodiversidade, prevenção e adaptação às mudanças climáticas e a preservação da capacidade ecossistêmica de prover bens e serviços ambientais para a população, visando atribuir ao sistema de atribuição de valor os processos ecossistêmicos.

Em resumo, a Economia Ecológica assenta-se sobre o conceito dos limites ecossistêmicos globais, nacionais, regionais e locais de produção e descarte dos processos produtivos, como gerir recursos por meio da gestão de ecossistemas e reduzir as pressões dos processos produtivos humanos para evitar uma possível disrupção de sistemas que suportam a vida no planeta.

Economia Circular e relações com os conceitos das duas áreas

O objetivo da Economia Circular é otimizar o uso de recursos naturais, reduzir a poluição e os resíduos e assegurar o funcionamento adequado dos ecossistemas, bem como promover o bem estar humano, promovendo a desvinculação entre o impacto ambiental e o crescimento econômico.

O artigo categoriza as ações para fomento da economia circular em micro, meso ou macro nível. O foco do micro seriam as empresas e o comportamento do consumidor, o foco do meso o estabelecimento de parques eco-industriais e o macro a gestão de cidades, estados ou países.

A China tem sido citada como um dos países mais efetivos em inclusão dos conceitos de Economia Circular em suas políticas públicas, seguidas pela Suécia e Alemanha, com o uso de instrumentos políticos, econômicos e de gestão.

Dentre estes instrumentos destacam-se os limites para emissão, os impostos e taxas ambientais, as certificações ambientais e ecológicas, a produção mais limpa, eficiência no uso de água e energia, avaliação de ciclo de vida de produto e sistemas de gestão ambiental, todos instrumentos oriundos da Ecologia Industrial e considerando os limites ecossistêmicos.

As similaridades entre a Ecologia Industrial e a Economia Ecológica baseiam-se na manutenção das atividades socioeconômicas dentro dos limites ecossistêmicos, visando evitar rupturas permanentes e de alto impacto acima da capacidade de resiliência de sistemas, o caráter interdisciplinar, a abordagem de teoria de sistemas, o uso de tabelas de input-output (insumo produto) e o interesse tanto nos fluxos monetários quanto nos fluxos de materiais, energia e informação, como forma de agregar outros parâmetros de avaliação na produção de valor.

As diferenças calcam-se no caráter mais conceitual da Economia Ecológica em relação ao caráter mais prático da Ecologia industrial e o uso do sistema natural como modelo pela Ecologia Industrial em contraposição ao modelo de estoque de capital natural gerando fluxos de serviços ecossistêmicos.

Das interações dentre os dois sistemas de pensamento e a integração com a Economia Circular existem oportunidades para incremento dos sistemas de gestão ambiental em nível local, no que tange ao comportamento dos consumidores e empresas, regionais, com o planejamento das atividades econômicas de acordo com as peculiaridades locais e as capacidades de suporte e recursos disponíveis e nacionais, tendo sempre em vista a resiliência dos ecossistemas e a necessidade de aproveitamento de recursos no longo prazo.

Tais iniciativas já tem tomado forma em diversos países, sob a forma de políticas específicas de produção e consumo sustentáveis, ainda que alguns retrocessos em relação à eficiência no uso de energias e água tenham sido observados, especialmente quando se investe em energias renováveis e novas tecnologias para eficiência energética.

É crucial que a sustentabilidade seja vista como um valor da sociedade e não somente objeto de disputa política, visto que é do interesse geral aumentar a eficiência produtiva, reduzir os impactos ambientais e aumentar a qualidade de vida da população.

Com a integração de áreas da ciência com objetivos comuns, com ferramentas e técnicas que permitem agir desde o macro até o microplanejamento, é possível avançar na agenda da sustentabilidade de forma a fomentar a eficiência do uso de recursos e reduzir o impacto ambiental das atividades humanas, incrementando a resiliência dos sistemas ecológicos dos quais dependemos para realizar as atividades socioeconômicas.

 

 

 

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Uma resposta para “Economia Ecológica e Ecologia Industrial – contribuições para a Economia Circular”.

  1. […] nos textos anteriores neste blog (2015, 2018, 2019), e dentro da visão que nos orienta, o da Economia Ecológica, o Sistema Econômico é um subsistema do Sistema Ecológico e o colapso neste sistema leva ao […]

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