ZAPQ – Cenários Sustentáveis

O Cenário mais provável é fazer acontecer a Sustentabilidade

Global Risks Report 2020

O Fórum Econômico Mundial lançou em 15.01.2020 o Relatório de Riscos Globais, versão 2020.

O relatório tem por objetivo identificar fatores de exposição ao risco por meio da consulta a diversas partes interessadas globais, com a identificação de impacto potencial cruzado com a probabilidade de ocorrência. Muitos dos fatores identificados tem migrado ao longo dos anos e conquistado relevância quando se avalia a necessidade de gestão e de atenção, bem como tem impactos em políticas públicas e privadas destas partes interessadas, visando reduzir riscos e gerar oportunidades.

Como exposto nos textos anteriores neste blog (2015, 2018, 2019), e dentro da visão que nos orienta, o da Economia Ecológica, o Sistema Econômico é um subsistema do Sistema Ecológico e o colapso neste sistema leva ao colapso daquele sistema. Os fatores apontados tem impacto direto nos demais fatores sociais e econômicos, considerando o sistema complexo que é o planeta Terra.

Matriz impacto probabilidade

Fonte: Global Risks Report (OECD 2020)

 

As questões que emergem da consulta aos especialistas realizada pela Fórum Econômico Mundial posicionam dentre os 10 principais riscos (impacto x probabilidade de ocorrência) seis fatores diretamente ligados ao meio ambiente .

Fatores

Fonte: Global Risks Report (OECD 2020)

As probabilidades de ocorrência são diretamente afetadas pelos dados coletados durante o ano de 2019 e às informações disponíveis aos públicos de interesse, bem como a percepção construída de que os fatores ambientais, sociais e econômicos estão intrinsecamente ligados. Eventos climáticos extremos, falhas em ações relacionadas às mudanças climáticas no que tange à mitigação das emissões e adaptação às mudanças já observadas, desastres naturais aumentando em frequência e intensidade, a perda de biodiversidade associada aos desastres naturais e eventos extremos, bem como à superexploração de recursos naturais renováveis, aos desastres naturais causados por humanos, como as queimadas na Austrália e Brasil. Completam a lista das 10 maiores probabilidades as fraudes eletrônicas, ciberataques à infraestrutura de países, crises hídricas, falhas na governança global e bolhas financeiras.

Quanto ao impacto gerado pela ocorrência dos fatores, os especialistas consultados categorizaram, em ordem decrescente, a falha nas ações climáticas, as armas de destruição em massa, a perda de biodiversidade, os eventos climáticos extremos, as crises hídricas, as crises na infraestrutura de informação, os desastres naturais, os ciberataques, os desastres naturais causados por ação humana e as doenças infecciosas.

Obviamente o ano de 2019 foi pródigo em enfatizar a importância do ambiente para as atividades econômicas e a necessidade de adaptação dos processos produtivos aos riscos apontados para a economia e para a sociedade. A avaliação inadequada dos riscos, impactos relacionados com probabilidade, leva a respostas insuficientes e com potencial de influenciar diversos outros fatores.

Como bem sabido, um impacto pontual causado por determinado fator tem efeitos sistêmicos, pois há inter-relações fortes ou fracas com outros fatores. No caso das mudanças climáticas e o desenvolvimento de uma infraestrutura resiliente, o atraso na identificação de fatores e nas ações de mitigação e adaptação aumentam o custo das crises. Um dos gráficos do trabalho que enfatizam as inter-relações demonstram claramente o potencial de disrupção dos fatores ambientais em relação aos demais fatores que eles influenciam.

inter-relações

Fonte: Global Risks Report (OECD 2020)

A inter-relação dentre os fatores e a percepção das partes interessadas consultadas posicionam as falhas na mitigação das emissões de gases de efeito estufa e na adaptação às mudanças climáticas como cruciais para a gestão de riscos para a humanidade. Como os indicadores tem mostrado, as emissões tem aumentado e as estratégias para mitigação e adaptação não tem sido efetivas para manter as mudanças dentro dos limites estabelecidos pelo IPCC, de no máximo 1,5 grau centígrado até 2100. A tendência atual é extrapolar estes limites e entrar na área cinzenta das consequências não lineares e não intencionais, para as quais não há gestão de riscos possível e sim gestão de crises e contingências.

Neste ponto a desinformação pode ter um papel fundamental em atrasar as respostas necessárias para a gestão de riscos. Há uma ação deliberada em causar dúvidas com relação aos fundamentos científicos das mudanças climáticas. Neste ponto, enfatizamos que há um corpo robusto de estudos que corrobora a tese da mudança climática e os possíveis efeitos sobre as atividades humanas. O gestor, seja ele público ou privado, tem todo o direito de duvidar ou questionar, mas não pode de maneira alguma desacreditar informações científicas e econômicas e reduzir o potencial impacto que um fator global como as mudanças climáticas tem de afetar as atividades sociais e econômicas e o potencial de disrupção de cadeias globais de suprimento.

Portanto, tendo em vista a movimentação dos fatores desde o primeiro trabalho sobre os riscos globais capitaneado pelo Fórum Econômico Mundial, tais sinalizações deveriam obrigatoriamente constar do planejamento dos países, sob pena dos custos de adaptação e mitigação tornarem-se altos demais para serem pagos. Negar que as mudanças climáticas tem um efeito sobre a estabilidade social e econômica, ou categorizá-la como uma farsa tem o poder de gerar desinformação e, principalmente, de gerar inação. Não se trata de dar voz às visões apocalípticas oriundas da captura da questão por alguns ideólogos anticapitalismo, mas sim de gerir adequadamente riscos com potencial de disrupção social, econômica e ambiental.

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